domingo, 29 de março de 2009

Álbum IV

As frutas de cera,
A roupa limpa
com cheiro de amaciante,
A vasilha do cachorro
com resto de ração,
O detergente com glicerina,
O incenso de rosas brancas,

Nada disso vai mudar

A água suja
que você deixou.

terça-feira, 24 de março de 2009

Álbum III

Quando bateu no peito uma dorzinha à toa,
ela viu que precisava de um suspiro
ou de poesia.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Retrato XXVI

Ele não conseguia dormir.
Ficava pensando nela em Pasárgada com ele.
Ele, eu digo, o outro. O nosso ele protagonista
é o que não faz parte, sofre a perda,
sente dor, quer chorar,
mas está seco.

Insone, fecha os olhos
e ouve o diálogo,
as vozes refletindo sorrisos, o beijo,
o sexo cru e fétido de dia inteiro,
a roupa de cama sem lavar,
as migalhas de pão e vinho ao lado
e o suspirar quase ofegante
dela.

Ele não vai
conseguir dormir enquanto souber que nesse minuto
ela suspira e se prende a ele, ali,
na janela ao lado,
ou Pasárgada.

domingo, 1 de março de 2009

Álbum II

Nessa cidade seca,
o princípio de chuva
seria uma porta ABERTA
para a poesia

não fosse a roupa no varal.